Às vezes sinto uma enorme vontade de mudar. Sinto uma ânsia de abanar a minha vida, de deixá-la de cabeça para baixo, totalmente diferente; deliciosamente diferente.
Tenho saudades da pessoa em que não me tornei, daquilo que podia ter sido. Quando olho para trás, vejo que ainda há muito mais em mim do que aquilo que transparece, e pergunto-me como seria hoje a minha vida se essa Catarina, essa que ainda está aqui escondida, tivesse ganho a batalha de medos e dúvidas com que se defrontou naquele momento decisivo.
Ganhou a Catarina conformista. Perdeu-se a Catarina sonhadora.
Ganhou a Catarina séria. Perdeu-se a Catarina apaixonada.
Hoje sinto-me à parte do mundo que um dia foi o meu maior sonho, sinto que nunca mais vou conseguir entrar ele… Pior ainda: não consigo afastar o pensamento de que estou demasiado atrasada para sequer tentar.
Falta-me a coragem para voltar atrás, falta-me a sensação de que ainda tenho tempo, falta-me a segurança de que não há nada a perder, falta-me a doce inconsciência, falta-me a irresponsabilidade, falta-me a loucura. Falta tudo, menos a vontade.
Gosto da minha vida, gosto daquilo que sou. Gosto, na maior parte do tempo.
Mas ocasionalmente fixo-me na ideia de que fui moldada, pelos outros e por mim mesma, pelos meus medos e inseguranças, pela minha tremenda incapacidade de acreditar em mim mesma. Se eles não fossem tão esmagadores, será que hoje estava aqui, a escrever este texto?