Sempre fui boa actriz, mas ultimamente a máscara teima em cair, deixando-me mais exposta do que queria, completamente ao alcance da verdade dura que recuso compreender. Ainda assim, continuo a tentar enganar-me a mim mesma, enterrando tudo o que sinto algures por debaixo do nevoeiro opaco que paira na minha solidão interior; persisto em manter a mestria no falso optimismo e, assim, a cada subida que faço na escalada libertadora, acabo por escorregar e deixar-me cair um pouco mais.
Sinto saudade… Nostalgia do que fui, das gargalhadas genuínas a que já não dou vida, do que é sentir que pertenço a lugar algum. Sinto falta de mim e de quem faz parte de mim, de quem esteve e já não está, de quem foi e já não é. E apesar da fachada que insisto em manter, a verdade é que a saudade de tudo e de nada consome-me, lambendo com as suas chamas ardentes cada pedaço de mim.
O espectro que no meu “eu” jaz começa numa agitação ininterrupta, num bulício tão profundo que nem os dias luzidios conseguem acalmar; a modorra constante em que me afogo lentamente permanece inexorável, levando-me a recordar até pedaços de conversas que já tinha como esquecidas.
O frio não me incomoda e o calor atinge-me tanto como nada; ainda assim, no meio do turbilhão que me revolve insistentemente, tudo o que consigo pedir quando fecho os olhos é que consiga continuar a inclinar-me para apanhar a máscara, resgatando-a de todas as suas quedas, e voltar a colocá-la no lugar aonde pertence: entre mim e o mundo."
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